Museus e educação precisam se complementar
Será que algum dia nós, brasileiros, vamos dar valor à História do nosso país? Eu, sinceramente, não sei responder a essa pergunta. O que sei é que temos muito o que contar. Os fatos históricos devem ser contados e recontados. Não apenas aqueles que se encaixam nas ideologias dos governos, independentemente do partido e do posicionamento político.
Tivemos escravidão? Sim! Tivemos episódios graves de corrupção na política? Sim! Não falar sobre isso não vai mudar os fatos. É preciso usar as lembranças históricas, entender os contextos da época, o que foi feito para mudar isso e o que ainda precisa ser feito. Assim, conhecendo o passado e dialogando no presente, poderemos construir um futuro melhor e mais inclusivo.
Os Museus têm um papel fundamental nesse resgate e na manutenção da Memória Coletiva. Os estrangeiros chegam ao Brasil, conhecem nossa História, visitam os locais que preservam as memórias e voltam para casa sabendo mais do que muitos brasileiros. Não somos um povo ensinado a ter orgulho das nossas origens. Crescemos ouvindo e assistindo fatos negativos que reforçam nosso sentimento de inferioridade em relação a outros povos.
Criando memórias afetivas
É aí que eu acredito que o papel dos museus precisa ser ampliado! Ao levarmos nossas crianças para conhecer os acervos, que não seja apenas um passatempo. Se mostrarmos a elas o quanto tudo o que estão vendo é importante, elas vão entender e passar isso adiante.
Eu vejo pela minha filha, Olívia, de 12 anos! Ela nasceu quando o Museu Mariano Procópio já estava fechado para restauração. Cresceu ouvindo histórias sobre o acervo, sobre a importância do primeiro museu de Minas Gerais, sobre o fato de Alfredo Ferreira Lage ser considerado o primeiro Mecenas do Brasil e por aí vai! Quando ficou sabendo da reabertura, ela se empolgou e me pediu para irmos assim que fosse permitido ao público.
Fizemos isso! Com o melhor amigo, Heitor, também de 12 anos, Olívia estava de pé na porta do Museu com os olhos brilhando. Eu e a mãe dele, Tereza, que é professora, nos divertimos não só revendo as peças incríveis que estão lá, mas com a reação encantada dos dois. Tiraram fotos, leram as descrições, analisaram as peças… A cada parada, eles iam acumulando recordações e sentimentos. Criando a Memória Afetiva. Certamente, daqui a muitos anos, vão se lembrar da primeira de muitas visitas ao Mariano Procópio. E, a cada vez que fizerem seus relatos, vão estar mantendo a História viva por mais um tempo.
Heitor, provavelmente, conheceu em 12 anos de vida mais museus em Juiz de Fora do que muitos adultos. Na lista, estão o MAMM (Museu de Artes Murilo Mendes), o Memorial Itamar Franco, os Museus do Credi Real, Ferroviário e de Malacologia (UFJF), além do Fórum da Cultura (UFJF). Incentivado pelos pais, ele encontra nos acervos informações curiosas e que reforçam as matérias que aprende na escola.
Museus e Educação lado a lado
Um detalhe sempre me chama a atenção quando entro em um museu na Europa. A presença frequente de crianças e a atenção delas com o acervo. No Louvre, em especial, é comum ver rodas de estudantes uniformizados, com blocos de desenhar ou livros e cadernos nas mãos, observando as peças e ouvindo explicações dos professores. O respeito e a preservação da História são ensinados desde cedo.
Quando levamos a Olívia ao Louvre pela primeira vez, ela tinha 5 anos. Eu fiquei com receio dela se cansar e se entediar na visita e pesquisei histórias curiosas. Nos meses antes da viagem, eu contei a ela como a Monalisa “driblou” os nazistas, como a Resistência Francesa ajudou a preservar as obras mais caras e simbólicas para os franceses e outras curiosidades. Contei também sobre as múmias egípcias e como tinham ido para o Louvre. Quando chegou no museu, ela se sentiu em casa e viu de perto as peças que faziam parte das histórias que tinha ouvido. Foi construção imediata de memória afetiva.
Numa viagem recente ao Rio, presente da minha mãe que ama cultura e museus, levamos Olívia e a minha sobrinha, Sofia, de 6 anos, ao Museu do Amanhã. As duas se divertiram muito. Mas, de formas diferentes. Sofia reagiu da mesma maneira que a prima tinha reagido aos 7 anos, quando foi lá pela primeira vez. Ela adorou a estrutura, as fotos, o espaço em si. Só que não se prendeu ao que estava escrito, às informações sobre várias áreas de estudo.
Olívia não se animou muito no início com a ideia de voltar ao Museu do Amanhã. Incentivei, falei que desta vez ela aproveitaria mais. E foi o que aconteceu. Ao entrar, teve a mesma reação de admiração pela estrutura. Depois, mergulhou nas descobertas. Parou em cada totem para ler o que estava escrito, navegou nas informações digitais e gratuitas à disposição, tirou fotos para mostrar aos professores detalhes interessantes que estão estudando na escola e absorveu ao máximo o conhecimento disponível.
Esse é o papel dos Museus! E a importância de acostumar as crianças a conviver com as obras e as informações históricas. E é aí que nós, pais, temos que fazer uma análise mais profunda no nosso comportamento. Se não lemos, se não demonstramos dar importância à História do nosso país, se achamos museus uma perda de tempo e se mostramos tudo isso aos nossos filhos, eles dificilmente vão dar valor à cultura e à preservação histórica.