Dia Nacional de Luta contra queimaduras
O Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, foi a primeira unidade de saúde do país a a criar linha de cuidado da assistência ao paciente queimado, com um centro de tratamento dedicado aos casos de alta complexidade e à formação de pessoal especializado. Segundo a Secretaria de Saúde de Minas Gerais, nos últimos sete anos, mais de 14 mil pessoas entraram no Hospital João XXIII com queimaduras graves. Uma média de cinco atendimentos por dia, 158 por mês e 1,9 mil por ano. Apenas nos cinco primeiros meses de 2023, 724 pacientes foram assistidos pelos profissionais dessa unidade.
No Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, comemorado nesta terça-feira, 06/06, o Ministério da Saúde reforça a importância da prevenção e do tratamento adequado. A campanha Junho Laranja, destaca neste ano o perigo dos choques elétricos. Dos 412 pacientes que estiveram internados no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) Ivo Pitanguy, no Hospital João XXIII, 30 tiveram queimaduras elétricas. O CTQ conta com 35 leitos, sendo 24 de enfermarias, nove de UTI’s adultos e dois de UTI’s pediátricas.
A campanha promovida pela Sociedade Brasileira de Queimaduras deste ano traz o slogan “Não se choque, eletricidade queima”. O objetivo é conscientizar as pessoas para os riscos representados pela eletricidade, reduzindo os acidentes desse tipo. As queimaduras elétricas correspondem a quase metade de todos os óbitos resultantes de acidentes relacionados.
Segundo dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, no período de 2015 a 2020, foram registradas 19.772 mortes por queimaduras no Brasil. Dessas, 53,3% (10.545) devido a queimaduras térmicas; 46,1% (9.117) a queimaduras elétricas; e 0,6% (110) a outros tipos de queimaduras, como agentes químicos, geladura e radiação. Dos óbitos por queimaduras elétricas descritos no documento, 70,1% (6.429) ocorreram no local do acidente.
As queimaduras térmicas também preocupam as autoridades. As estatísticas do Hospital João XXIII mostram que, entre 2016 e 2022, foram atendidos, apenas na unidade, 11.405 casos de queimaduras térmicas (distribuídos por ocorrências envolvendo líquido livre, fogo e contato com objeto quente), numa média de mais de 1,6 mil casos anuais. Os agentes térmicos são as principais causas de queimaduras que ocorrem nos ambientes domiciliar e peridomiciliar (localizado em até 50 metros no entorno da casa).
As queimaduras por contato com objeto quente são prevalentes em meninos na faixa etária dos 0 a 5 anos de idade, enquanto as relacionadas ao fogo ocorrem com mais frequência em homens na faixa etária de 41 a 50 anos; as por líquido livre são mais comuns em mulheres com idades entre 20 e 30 anos.
Cuidados e prevenção
Quem tem criança pequena em casa deve evitar usar forro na mesa. Ela pode puxá-lo e o objeto quente cair sobre a criança. Também não coma alimentos quentes com o bebê no colo. Somente o pegue no colo se não estiver com algo quente nas mãos, seja sopa, café ou qualquer outra coisa aquecida. Jamais cozinhe com o bebê no colo. Retire a criança da cozinha quando estiver usando o forno. Mantenha as panelas com líquidos quentes na parte de trás do fogão, com o cabo virado para dentro.
Deixe o ferro esfriar longe do alcance da criança e utilize algum tipo de proteção na base. Ao preparar o banho do bebê, primeiro coloque água fria e depois acrescente, aos poucos, água quente. Meça a temperatura da água com o dorso da mão (parte de trás da mão) antes de colocar o bebê na banheira.
Em relação às queimaduras elétricas, as recomendações incluem evitar as gambiarras – soluções improvisadas. Evite usar vários benjamins ou muitas tomadas no mesmo benjamim. Em vez disso, use um filtro de linha. Evite realizar gatos (ligação elétrica clandestina), eles representam risco para todas as pessoas da casa. Use protetores de borracha ou coloque os próprios móveis na frente das tomadas para que as crianças não introduzam o dedo ou algum objeto. Não use o celular quando o carregador estiver ligado na tomada – os casos de óbitos em razão dessa prática têm crescido nos últimos anos.
Quem tem pessoas idosas em casa deve avaliar se elas estão em condições de manipular certos tipos de materiais, como objetos quentes, por exemplo. As queimaduras são potencialmente mais graves em idosos e crianças. Além disso, o idoso costuma ter comorbidades que agravam o quadro.
Segundo o anuário estatístico de acidentes de origem elétrica 2023, ano base 2022, da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), os principais causadores de choques elétricos em casa são os eletrodomésticos ou eletroeletrônicos (21,5%), seguidos dos fios partidos ou sem isolação (16,8%), das extensões, benjamins e tomadas (14,1%) e da manutenção caseira – telhado, antena etc. (10,7%). Nesse contexto, Minas Gerais ocupa o quinto lugar no ranking nacional de mortes por choque elétrico. No ano passado, no estado, foram 28 óbitos (4,7% do total de casos).
Abaixo, a cirurgiã do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do HJXXIII e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), Kelly Araújo, destaca a importância da prevenção.