PC investiga empresa de festas que fechou sem cumprir contratos
Um dia de sonho! Um momento de reunir amigos e parentes para comemorar o aniversário dos filhos. Para algumas famílias de Juiz de Fora, o tão esperado dia de festa virou um pesadelo! Rosana contratou em 2023 o trabalho do Grupo Festeja e gostou de todos os detalhes do atendimento e da decoração. Neste ano, decidiu repetir a dose e contratou mais uma vez a empresa para a festinha do Miguel, marcada para o último sábado às 19h, no Espaço Zoom, no bairro Francisco Bernardino, Zona Norte da cidade.
Rosana foi avisada às cinco da manhã de sábado que a empresa tinha fechado por problemas financeiros e a festa tinha sido cancelada. Ela se desesperou. “A primeira reação que tive foi foi ir ao salão, para tentar conversar com alguém. Não obtive êxito. Decidi então, ir ao outro salão, no bairro Manoel Honório. Também estava fechado. Vizinhos contaram que uma caminhonete parou no local por volta de duas da madrugada e carregou muita coisa, móveis inclusive, e que desde então estava fechado e não haveria mais ninguém para atender a gente” conta a comerciante revoltada.
Na porta do salão de festas, Rosana conheceu outras pessoas em situação parecida, também querendo respostas sobre eventos cancelados na última hora. O grupo trocou contatos e criou um whatsapp coletivo para reunir as vítimas. Em seguida, foram todos à delegacia da Polícia Civil, em Santa Teresinha e depois se dividiram em postos da Polícia Militar para o registro de Boletins de Ocorrência.
Os dois salões de festas usados pela empresa continuam com as portas fechadas e sem ninguém para prestar informações. A Polícia Civil instaurou um inquérito e está ouvindo as vítimas, funcionários e prestadores de serviços desde a última segunda-feira.
Nesta quarta-feira, às 9h30minutos, a dona da empresa chegou à Quinta Delegacia de Polícia Civil, no bairro de Lourdes para depor. Ela chegou acompanhada do advogado. Um grupo de vítimas se reuniu no local para prestar depoimento e protestou ao saber da presença da empresária no local. Eles registraram imagens dentro da delegacia, no momento em que a mulher deixava o local.
O advogado de defesa, Thales Castro, conversou com a nossa equipe e expôs o posicionamento da cliente dele. “Não tenho dúvidas de que o prejuízo das mães, sentimental, é gigante e o prejuízo financeiro vai ser ressarcido a todas as pessoas. Já começamos a negociar, já temos alguns contratos, alguns termos de acordo assinados e todas as pessoas vão ser procuradas, de acordo com a declaração dela, para receber o dinheiro de volta”, afirmou o advogado.
Sobre os funcionários da empresa, que também foram comunicados no sábado, por meio de um áudio num grupo de whatsapp, que a empresa estava fechada, o advogado explicou que a informação que ele tem é “de que ela tinha 23 empregados. Uma pessoa com vínculo empregatício, que vai ser resolvido com a homologação no sindicato apropriado. Os 22 freelancers que prestavam serviços nos salões e, era uma coisa eventual, todos já foram pagos”
Na saída da delegacia, o carro do advogado foi cercado por manifestantes que bateram nos vidros e gritaram pedindo justiça. Thaís estava revoltada e disse que ter visto a empresária lá e saber que a Polícia Civil está investigando não traz certeza de punição. “Estamos no Brasil! Isso não quer dizer muito. A gente quer que ela dê algum depoimento pra gente, que o advogado entre em contato, ninguém entrou em contato, ninguém falou nada! Mas, a gente não vai deixar o caso se abafar! Não vai!” afirmou a dona de casa, entre lágrimas de raiva.
Outra mãe que estava abalada e chorando era Francislaine. Ela explicou que contratou a festa do filho em abril. O evento seria em dezembro. “Eu ainda perguntei se havia outras festas no mesmo dia e horário e falaram que não. Perguntei se estava tudo certo e paguei! Eu guardei dinheiro por dois anos para fazer a festinha que ele tanto queria! Não é justo!” lamentou a Chefe de Departamento.
Depois de ver o carro se afastar com a empresária, Francislaine passou mal e se sentou num canteiro, nos fundos da delegacia. Chorando ela cobrou justiça: “a gente precisa que essa mulher seja presa logo, porque há boatos de que ela vai sair de Juiz de Fora, que ela vai para Portugal. Isso não é certo, gente, é muito sonho de criança que foi interrompido, sabe? É muita criança que nunca teve uma festinha de aniversário e que ia ser a primeira e agora o sonho acabou, sabe? Foi por terra por causa de uma pessoa que não tem responsabilidade. É um absurdo isso, é um absurdo!”
A orientação da Polícia Civil é para que as vítimas registrem na Polícia Militar um Boletim de Ocorrência e depois procurem a Quinta Delegacia, no bairro de Lourdes, para representar contra a empresa e prestar depoimento. É importante levar os contratos assinados, os comprovantes de pagamento e outros documentos relacionados aos eventos contratados.
A delegada Bianca Mondaini, responsável pela investigação, explicou que até a manhã desta quarta-feira, já tinham prestado depoimento cerca de 80 pessoas. Os relatos são parecidos e as apurações indicaram que a empresa chegou a agendar oito festas para os mesmos dias, horários e locais, o que seria impossível de realizar. As oitivas continuam. As vítimas apresentaram documentos que incidam que pelo menos 209 pessoas contrataram os serviços do Grupo Festeja, mas poucas tiveram as festas realizadas.
Sobre os eventos marcados ao mesmo tempo, o advogado explicou que nos seis anos em que a empresa funcionou, todos os eventos duplicados foram realizados. Alguns foram remanejados, outros mudaram as datas, mas também foram atendidos. Outra irregularidade apontada pela vítimas é o pagamento de PIX e depósito em nome de outras pessoas, que não são a dona da empresa. Thales explicou que depois da pandemia, a cliente teve dificuldades para atender aos 290 eventos contratados e que tiveram que ser adiados por conta do fechamento obrigatório dos salões de festas.
Apesar das vítimas terem informado à Polícia Civil que os depósitos foram feitos em nome de mais de uma pessoa, o advogado disse que a cliente confirmou que alguns pagamentos foram feitos em nome da irmã dela, já que de todos os contratos referentes ainda à pandemia, vinte não foram resolvidos e geraram processos judiciais, comprometendo as contas da empresária.